Eu era bem novinho quando ganhei uma coleção de livros literários. Nela não havia O Menino Maluquinho, e sim, A Árvore que dava dinheiro. Não havia Marcelo, Marmelo, Martelo. Havia Um Sonho de Verão, de um tal Shakespeare. Olhei pro meu pai com cara de “Tá bom... agora devolvi minha bola. Isso é hora de dar livros para um menino”. Claro que não pensei isso, mas teria sido engraçado. Pra falar a verdade, ler é bom?
Pois bem. Vou dizer: não. Ler não é bom. É cansativo, chato e dá sono. Aliás, você só sabe ler, porque um cara lá atrás (laaaá atrás mesmo) resolveu inventar as letras. Deu no que deu. Já pensou: ficar só na moleza, deitado na beira da cachoeira, só de preguiça... tentando evitar a fadiga, maravilha! Infelizmente essa fantasia não existe. Nem pra mim, nem pra você, nem pro Jaiminho.
Brincadeiras à parte, entender o sentido de um livro não é fácil. Requer tempo, dedicação e um empurrãozinho. Empurrãozinho esse que meu pai me deu. Com sua imensa sabedoria ele me contou uma historinha: “Um passarinho bem pequenininho, queria aprender logo a voar. Ele via pássaros majestosos e exuberantes nos céus, indo de um lado para outro, livres, prontos para ganhar a liberdade. Enquanto o passarinho, pobrezinho, se via preso ao chão. Tentou ao menos planar depois de se jogar de uma árvore. Acabou se machucando todo. Abatido em um canto do ninho, chega seu pai – um gavião – que se aproxima do seu filho. Logo o pequeno passarinho disse estar triste por nem sequer saber planar. Seu pai ao abrir as asas e mostrar para o seu filho sua força e bravura em suas asas – com cicatrizes –, explicou: Não sou o que sou, por simplesmente esperar ou chorar. Meu pequeno, é necessário buscar aquilo que verdadeiramente te encha de vida, mesmo agora. Pois o tempo passa e não volta. Só assim é que você conseguirá alcançar o máximo do seu explendor! O máximo do seu espírito! O seu sonho!”
Sempre guardei comigo esse conto. Não consegui compreender o que tinha haver o pássaro comigo no momento. Mas o tempo me fez entender o seu valor. E, o valor de algumas 50, 100, 200 páginas de livro. É quase impossível relatar em apenas algumas linhas o sentimento de ser autônomo na leitura. Descobrir mundos que estão escondidos em simples folhas brancas (ou amarelas), cheias de mistérios e armadilhas para àqueles que se afogam no mar de palavras. Foi isso que senti aos meus quase velhos (mas não tardes) 12 anos de idade, no planeta – não remoto – chamado Conhecimento. Com certeza foi aqui que meu velho descobriu isso.
Hoje mais do que um leitor assíduo (pelo menos tento), busco me identificar com o simples bloco de papel à realidade. Aos instantes de reconforto com Drummond, de alegrias com Clarice, de reflexão com Machado, de aprendizado com Maquiavel. Mesmo este simples fato de abrir e ler poemas deve ficar registrado. Portanto, assim finalizo: não só é bom, mas sim, é fabuloso ler.