Desde o início da campanha à Presidência da República não se viu o candidato do PSDB, José Serra, fazer uma discussão verdadeiramente política, a não ser injúrias vindas de seus parceiros. Escondido atrás de seus aliados como a VEJA, a GLOBO, a FOLHA de SP e tantos outros meios que possuem voz, não param de difamar a petista Dilma Rousseff. Por quê? Temem algum embate de ideias lógicas sobre a forma de governar em que o país hoje vive? Provavelmente Sim.
Há poucas semanas do dia da votação do 1° turno, pessoas coligadas à direita, soltaram infâmias sobre Dilma. Coisas do tipo: Dilma ganha, e, aprova o aborto; o casamento gay. São os principais temas discutidos em rodinhas de bate-papo. Aos mais despreparados quanto ao assunto, só resta-os sem muitas informações, a acreditar na fala daquele que o dirige a palavra.
A temática sobre o aborto é levada muito a sério no Brasil, por ser o país em suma católico. Para tanto, não me compete a analisar algum caso aqui. No entanto, convivo com pessoas que afirmam terem visto vídeos em que a candidata Dilma é favorável ao aborto. Mostrem-me um vídeo que Dilma, exclama: “Sou a favor do aborto!”. Não há esse vídeo. Nenhum jornal noticiou essa expressão de Dilma, pois ela não existiu. A única coisa que vi, são vídeos picados que não representam os pensamentos da presidenciável. Junto a eles, vêm aqueles comentários maldosos e sem sentido de uma extrema direita enlouquecida pelo poder.
Outra polêmica, envolve o caso dos casamentos homossexuais. A Constituição brasileira não permite esse tipo de arranjo – apesar de sabermos que existe – , e não seria Dilma a primeira a tocar nessa lei. Já ouvi conversas preconceituosos sobre até o modelo de corte-cabelo de Rousseff. Todos sabemos que ela só está com o cabelo daquele jeito, por ter sofrido com o câncer dos linfonodos.
Ainda sobre polêmicas, a censura à imprensa tem estado em pauta nos maiores meios de comunicação. O plano de medidas referente a mídia é clara: não se mexe no direito a opinião livre. Cada um pensa no que quer, fala o que quer. A verdade é que miudezas na transmissão das ideias midiáticas são distorcidas e repassadas aos espectadores parecendo verdade absoluta.
A Igreja, a maior detentora e perversora de pensamentos de seus fiéis talvez seja a grande vilã (apesar de ser católico, sei que há vários padres e pastores por aí mal informados. Digo: a Igreja vem perdendo seu verdadeiro sentido, e incorporando agora os preceitos mundados tratados por alguns homens nela infiltrados). Usurpando disso, psdbistas aproveitam a situação para espalhar essa polêmica. Já imputam à legenda do PT e seus seguidores trocadilhos e piadas maldosas que não citarei aqui.
José Serra nada fala em medidas de governo. Faz críticas ao Governo atual – “o Brasil pode crescer muito mais”–, a educação, a saúde. “Não é atoa que Serra é hipocondríaco, só pensa em saúde”, disse o velhinho piadista, Plínio Arruda, no debate na BAND. Mas, porque o Brasil é muitas vezes impedido de alavancar-se no cenário mundial como uma super economia (se o enfoque de Serra é esse, sempre)? Dívida externa (Plínio enfatizou-a demasiadamente GLOBO)? Impostos exagerados (vejamos os pedágios em SP ~ 10km de estrada = R$ 2,80)?
Amigo votante. Observe bem. Claro, é óbvio que José Serra possui mais carreira política que sua adversária. Não questiono isso. Olhe a Dilma também. A mulher entende demais de Brasil. Se possível, procure vídeos dela quando Ministra das Minas e Energia. Note como ela tem um molejo a falar do assunto Brasil. Então, qual é o fator da emblemática corrida à Presidência que Serra não expõe? Sua política de governo.
Você sabe em que espécie de governo o PSDB de FHC e José Serra têm para o Brasil? Uma política neoliberal. O que é exatamente … É uma tática de governo implantada em 1980 por R. Reagan (EUA) e M. Thatcher (Reino Unido) após o advento do keynesianismo (que pregava a intervenção do Estado na economia – welfare state), para prosseguir com os pensamentos capitalistas pós estabilização da crise de 29.
Em resumo, o neoliberalismo admite a livre concorrência e predomínio das leis de mercado ajustando as atividades e os agentes econômicos, adaptadas ao período em que se encontra. Ou seja, propõe redução da participação do Estado na economia com privatizações dos serviços públicos, liberdade nas taxas de câmbio e de juros, liberdade de ação de capital estrangeiro, antinacionalismo industrial, etc. Esse é o motivo para que José Serra e sua bancada não exponha suas metas de governabilidade. Esse é o medo do PSDB, pois a sua política foi a mesma aplicada com FHC, a exemplo, dos ocorridos com a Vale do Rio Doce (VALE) e tantas outras ex-autarquias.
A ética neoliberal reativa as ideias do darwinismo social. A ideia básica do “quer gostemos ou não, o mundo é uma selva capitalista. No século XXI, só vencerá quem souber ser competitivo. Os melhores sobreviverão, os fracos cairão. Por isso os governos não devem gastar dinheiro com assistência social nem devem melhorar a distribuição de renda. Afinal, tirar dos ricos para dar aos pobres não é premiar os fracassados e punir os competentes?”
E você, leitor pensante. Concorda com essas ideologias? Será que a eficiência deve ser o principal valor? A vida é mesmo uma selva? O objetivo da vida tem sido o de amar a si mesmo e consumir. Será esse o nosso futuro? Não é isso que quero deixar – e nem você – para a próxima geração se um dia Serra for eleito. Pense nisso.
Ciro Gomes - Serra não pode voltar
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Precatórios, serra e kassab - Jornal da Band - 05-06-2009