Não
é de hoje que se ouve falar dos problemas na educação pública
brasileira. São inúmeros, mas basicamente firmados em quatro
pilares como remuneração salarial, infraestrutura universitária,
fortalecimento da grade acadêmica e o aumento quantitativo de
escolas superiores. Estes foram os principais argumentos dos
professores universitários federais, que já estavam em greve há
quatro meses. Vencidos pelo cansaço imposto pela omissão
governista, agora, os docentes retomam as suas funções após
ouvirem a opinião de Ministro da Fazenda Guido Mantega: “a
educação vai quebrar o Brasil”... reles mortal.
Desde
17 de maio, 57 das 59 federais estavam com suas atribuições
suspensas em questão da greve dos professores. Foram quase
totalmente paradas as atividades nas faculdades de ensino em busca da
melhoria nas IES (Instituições de Ensino Superior). Estavam
presentes servidores e também alunos nas várias passeatas e
reivindicações “pró-ensino público de qualidade”. Porém,
enquanto isso, a cúpula do governo em Brasília, onde se reuniam no
horário do lanche para bater um papo descontraído sobre a crise nas federais com diversos pedagogos e ministros, lá também estava o
glorioso ministro Guido Mantega quando soltou sua pérola: “O
investimento em educação vai quebrar o Brasil”.
Bem,
deduz-se que para um indivíduo ser ministro deveria, ao menos, saber
o que diz publicamente. Almejar lucros únicos e exclusivos com a
venda de produtos-da-terra, é demonstrar incompetência analítica
como um participante da administração estatal. Contudo, ainda em
Brasília, analisando a conduta do Ministério da Educação (MEC)
com Aloísio Mercadante, a situação se torna mais deprimente:
“Estou surpreso com a deflagração da greve (em maio)”,
disse o ministro. Ora, absurdo seria não estar, pois o MEC desde o
início não esteve a frente sequer das negociações, que foram
incumbidas ao Ministério do Planejamento.
Os
principais sindicatos da categoria “brigaram” por mudanças (com
dúvidas ao Proifes – sindicato elaborado pelo governo).
Entretanto, o governo se mostrou distante ou mesmo pouco motivado a
colaborar. É mais fácil incentivar o ensino privado que forma
alunos técnicos, não cientistas (que possuem uma grade curricular
deveras insuficiente e relaxada), e abrir vagas via Prouni e Fies em
particulares. Ou seja, privatizar indiretamente a educação. O
professor da USP e UFRJ Carlos Eduardo Martins em seu texto no Blog
da Boitempo “Hora de abandonar a herança maldita: O governo
Dilma e as greves no Serviço Público”, expõe dados
relevantes quanto as matrículas no ensino superior. Hoje, do total
de matriculados no país, contam só com 25% no ensino superior
público. Um contrassenso para um país que deseja ser uma grande
potência no mais abrangedor da palavra.
Por
fim, a peleja educacional brasileira se arrasta há tempos e o número
de culpados é grande. O abismo cultural e intelectual no país é um
absurdo. Daí o ínfimo incentivo populacional às greves julgando os
professores como bandidos ou uma corja de safados. Quem forma cidadão
ativo e consciente são professores, não são policiais, nem
políticos ou qualquer outro agente de Estado. Não são os doutores
e mestres que “perderam”, por cansaço, sozinhos por uma reforma
mais profunda na conjuntura educacional. Ninguém trabalha se seu
dinheiro for perdendo força por falta de reajustes devido a
inflação. Mão-de-obra qualificada e especializada que no Brasil é
menosprezada, infelizmente. O que esperar de uma nação que se
transforma quando vê uma bola rolar ou quando ouve uma batucada
soar?
***VÍDEO:
EDITORIAL BAND: 29/06 SOBRE AS GREVES NAS FEDERAIS
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